domingo, 5 de maio de 2019

Dormimos mais quando estamos doentes. Porquê?
Estudo publicado na revista “Science”
Uma equipa de investigadores descobriu um gene que é responsável pela necessidade maior de dormir quando nos encontramos doentes.
 
O gene, que foi denominado nemuri (significado de dormir em japonês), foi descoberto por uma equipa de investigadores da Faculdade de Medicina Perelman da Universidade da Pensilvânia, EUA, num estudo que incluiu mais de 12.000 linhas de mosca da fruta. 
 
A proteína NEMURI combate os germes com a sua atividade antimicrobiana inerente, e é segregada por células no cérebro para promover um sono prolongado e profundo quando existe infeção.
 
Amita Sehgal, autora sénior deste estudo, explicou que, “embora seja do conhecimento comum o facto de o sono e a recuperação estarem intimamente associados, o nosso estudo liga diretamente o sono ao sistema imunitário e dá uma potencial explicação para o facto de o sono aumentar durante as doenças”.
 
A equipa observou que as moscas da fruta que não expressavam o gene nemuri despertavam mais facilmente durante o sono e aparentavam ter menos necessidade de dormir na sequência de uma infeção ou de privação de sono.
 
Os investigadores observaram também que a privação de sono, a qual faz aumentar a necessidade de dormir e, de alguma forma, o desenvolvimento de infeções, estimulou a expressão do gene nemuri num pequeno grupo de neurónios das moscas que se encontravam perto de uma estrutura do cérebro promotora do sono. 
 
A superexpressão do gene fez aumentar o sono em moscas que tinham sido infetadas com bactérias, o que fez melhorar as suas hipóteses de sobrevivência em relação às moscas de um grupo de controlo que não tinham sido infetadas.
 
Segundo os investigadores, a proteína NEMURI parece reagir a infeções, exterminando as bactérias e aumenta o sono, atuando sobre o cérebro. 
 
A NEMURI é um peptídeo antimicrobiano. Muitas outras moléculas possuem múltiplas funções que ajudam a combater infeções. No entanto, a função de promotora de sono da NEMURI poderá ser também importante para a defesa do seu hospedeiro, pois o aumento do sono com a infeção promoveu a sobrevivência nas moscas. 
 
Tipo de parto influencia o microbioma intestinal e a saúde respiratória do bebé
Estudo apresentado no Congresso ECCMID 2019
Um novo estudo sugere que o tipo de parto afeta o microbioma intestinal do bebé, independentemente do uso materno de antibióticos, influenciando por sua vez, a saúde respiratória do bebé durante o seu primeiro ano de vida.
 
Conduzido por investigadores do Hospital Spaarne Gasthuis em Hoofddorp, em colaboração com o Complexo Médico da Universidade de Utrecht, ambos na Holanda, o estudo analisou o microbioma intestinal de 120 bebés, 46 dos quais tinham nascido por cesarina e 74 por via vaginal.
 
Para a análise do microbioma intestinal, a equipa recolheu amostras fecais, em 10 ocasiões diferentes, durante o primeiro ano de vida dos bebés. 
 
A administração de antibióticos às mães submetidas a cesariana foi adiada até ser cortado o cordão umbilical. Foram ainda recolhidas amostras fecais das mães duas semanas após o parto.
 
Os resultados das análises demonstraram composições significativamente diferentes entre o microbioma intestinal nos bebés nascidos por cesariana e o dos nascidos por parto vaginal, durante o primeiro ano de vida, sendo mais pronunciadas pouco tempo após o nascimento.
 
Foi ainda observada a transferência de micróbios maternos vaginais para os bebés que tinham nascido por parto vaginal, mas não para os bebés nascidos por cesariana. 
 
Os bebés nascidos por cesariana apresentavam um microbioma intestinal menos estável e um atraso nas bactérias Bifidobacterium spp, que são promotoras da saúde, em relação aos bebés nascidos por via vaginal. 
 
Aqueles bebés possuíam ainda níveis muito mais elevados de bactérias intestinais potencialmente patogénicas, independentemente do tempo de internamento hospitalar após o nascimento, tipo de alimentação e uso de antibióticos. 
 
Finalmente, a equipa descobriu ainda que o microbioma intestinal nos primeiros tempos de vida dos bebés estava associado ao número total de infeções respiratórias durante o seu primeiro ano. 
 
Apneia do sono poderá estar associada a doença de Alzheimer
Estudo apresentado no Congresso da Academia Americana de Neurologia
A apneia do sono poderá estar associada a um risco mais elevado de demência, nomeadamente doença de Alzheimer, indicou um novo estudo. 
 
O estudo, que foi conduzido por Diego Carvalho e equipa da Clínica Mayo em Rochester, EUA, procurou analisar a potencial relação entre a apneia do sono e a presença de proteína tau no cérebro, um dos biomarcadores da Alzheimer.
 
Diego Carvalho avançou que muitas pessoas que sofrem de apneia do sono desconhecem ter a doença.
 
Para determinar a presença de apneia do sono, a equipa recrutou 288 pessoas com 65 anos ou mais de idade, sem sinais de incapacidade cognitiva, e pediu aos seus companheiros de sono que estivessem atentos a episódios de falha de respiração durante a noite. 
 
Adicionalmente, os investigadores analisaram a presença da proteína tau no cérebro dos participantes através de tomografia por emissão de positrões (PET), especialmente na região do córtex entorrinal. Esta região é responsável pela memória, perceção temporal e espacial e apresenta maior tendência para acumulação de tau. 
 
O processo de monitorização do sono noturno revelou que 43 participantes tinham experienciado episódios de apneia. Estes participantes possuíam níveis de tau no córtex entorrinal 4,5% mais elevados do que os participantes sem apneia do sono. Este aumento manteve-se após considerados fatores como idade, sexo, outros problema de sono e saúde cardiovascular.
 
Como resultado, os investigadores concluíram haver indícios de uma ligação entre a apneia do sono e uma maior acumulação de tau no cérebro. 
 
Contudo, disse Diego Carvalho, poderá verificar-se o contrário: “é também possível que os níveis mais elevados de tau noutras regiões possam predispor uma pessoa para a apneia do sono”.
 
Porque é que necessitamos de dormir?
Estudo publicado na revista “Nature Communications”
Uma equipa de investigadores descobriu uma nova e inesperada função do sono que poderá explicar a razão pela qual os problemas de sono afetam o desempenho cerebral, o envelhecimento e doenças do cérebro.
 
Todos os organismos que possuem um sistema nervoso necessitam de dormir, mesmo perante a ameaça de eventuais predadores. Ao longo da evolução das espécies, o sono tem-se mantido como uma necessidade universal para esses organismos, quer sejam mamíferos, quer sejam animais invertebrados como moscas ou minhocas.
 
Os investigadores da Universidade de Bar-Ilan, em Israel, descobriram, através de imagens tridimensionais de cromossomas isolados, que cada neurónio necessita de dormir para poder fazer a sua manutenção nuclear. Os achados da equipa foram efetuados através da observação de peixes-zebra. 
 
Os peixes-zebra são modelos perfeitos para estudar células isoladas em animais vivos pois são transparentes e possuem um cérebro semelhante ao dos humanos. Portanto, os investigadores conseguiram observar o movimento do ADN e das proteínas do núcleo da célula, no interior dos peixes, quando estes se encontravam em estado de vigília e a dormir.
 
Foi observado que os cromossomas se encontram mais ativos durante a noite, quando o corpo está em repouso, e que esta maior atividade permite reparar eficazmente os danos efetuados ao ADN.
 
Os danos ao ADN podem ser causados por muitos processos como stress oxidativo, radiação e até atividade neuronal. Os sistemas de reparação (do ADN) existentes em cada célula corrigem esses danos. A equipa observou que durante as horas de vigília, quando o dinamismo dos cromossomas é menor, os danos ao ADN vão-se acumulando, podendo atingir níveis prejudiciais.
 
A função do sono é aumentar o dinamismo dos cromossomas e normalizar os níveis de danos causados no ADN em cada neurónio. Este processo de manutenção do ADN parece não ser totalmente eficiente durante as horas de vigília e necessita de um período de sono, quando o estímulo cerebral é muito reduzido. Lior Appelbaum, que liderou o estudo, comparou este processo a uma estrada esburacada. As estradas vão acumulando estragos, especialmente à hora de ponta, e são mais eficazmente reparadas durante a noite, quando há menos tráfego automóvel.