domingo, 29 de setembro de 2019

Usar os pés para pintar: cérebro mapeia-os como mãos
Estudo publicado na “Cell Reports”
Investigadores da Universidade de Londres observaram, pela primeira vez, em pessoas que pintam com os pés, que a atividade dos seus dedos inferiores era mapeada pelo cérebro como dedos das mãos.
 
Daan Wesselink, autor principal, explica que os dedos das mãos estão representados no cérebro, cada um na sua secção. Para os dedos dos pés não existe distinção entre zonas do cérebro.
 
Contudo, nos primatas, que usam também os dedos dos pés para trepar e agarrar, todos os dedos estão especificamente representados no cérebro.
 
Para o estudo, os cientistas recrutaram dois pintores profissionais com os pés no Reino Unido, que também usam esses membros nas atividades do dia-a-dia, e 21 pessoas com as duas mãos, como grupo de controlo.
 
Durante o exame de ressonância magnética funcional, foi analisado o córtex somatossensorial enquanto os investigadores tocavam nos dedos dos pés dos participantes.
 
Foi observado que, no caso dos pintores, certas áreas do cérebro reagiam ao toque nos dedos, assim como havia mapas definidos de cada dedo do pé destro, mas não tanto do pé de apoio. Os controlos não possuíam tal mapa.
 
Outras análises demonstraram que os pés dos pintores estavam representados no cérebro como uma mão, mas não os do grupo de controlo.
 
Por fim, observou-se também que os dedos dos pés dos pintores estavam adicionalmente representados numa parte do cérebro onde deveriam estar as mãos que não possuem.
 
Este estudo vem apoiar a ideia de que a zona de controlo das mãos no cérebro é usada para apoiar outras partes do corpo, como lábios ou pés de pessoas que nascem sem mãos.
 
Trabalhadores noturnos têm mais perturbações intestinais
Estudo do Instituto Champalimaud revela a causa das inflamações
As pessoas que trabalham à noite têm mais probabilidades de desenvolver inflamações intestinais, porque há células que contribuem para a saúde intestinal que deixam de receber informações vitais do cérebro, indica um estudo.
 
Os resultados da investigação foram publicados na revista científica Nature. Feito pela equipa de Henrique Veiga-Fernandes, no Centro Champalimaud, em Lisboa, o estudo explica o que leva as pessoas que têm horários desregrados, como trabalhadores noturnos, a ter mais tendência para inflamações intestinais ou obesidade.
 
A equipa descobriu que a função de um certo grupo de células imunitárias, conhecidas por contribuírem de forma muito significativa para a saúde intestinal, se encontra sob o controlo direto do relógio circadiano do cérebro.
 
Veiga-Fernandes, citado num comunicado da Fundação Champalimaud, explica que quase todas as células do corpo possuem uma maquinaria genética interna que acompanha o ritmo circadiano através da expressão dos chamados “genes relógio”, que indicam a hora do dia às células.
 
A equipa descobriu que as chamadas “células linfóides inatas de tipo 3” (ILC3), que no intestino lutam por exemplo contra as infeções, são particularmente sensíveis às perturbações dos seus genes relógio.
 
“Quando os cientistas analisaram a forma como a perturbação do relógio circadiano cerebral influía sobre a expressão de diversos genes das ILC3, descobriram que desencadeava um problema muito específico: o “código postal” molecular destas células desaparecia”, explica-se no comunicado.
 
O “código postal” é uma proteína na membrana das células que diz para onde devem ir. Faltando a informação as ILC3 podem não ir para o intestino quando deviam, no período a seguir à alimentação.
 
Crianças e adolescentes portugueses consomem açúcar em excesso
Estudo desenvolvido pelo Instituto de Saúde Pública da UP
Um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), que teve por base o Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física, concluiu que as crianças e adolescentes são quem mais consome açúcar em Portugal.
 
O estudo, recentemente publicado na revista Public Health Nutrition, analisou dados de 5.811 pessoas, com idades entre os três meses e 84 anos, relativos ao consumo de açúcares e que foram recolhidos entre 2015 e 2016.
 
"O nosso objetivo foi caracterizar o consumo de açúcar na população portuguesa e, além de caracterizar, perceber quais eram os alimentos que contribuíam para esse consumo", disse à Lusa, Ana Rita Marinho, autora do estudo e investigadora do ISPUP.
 
Analisou-se o consumo total e diário de açúcares livres [açúcar adicionado aos alimentos pelos consumidores ou indústria e o açúcar que está presente no mel, concentrados e sumos de fruta].
 
A Organização Mundial de Saúde (OMS) reforçou e colocou valores limite de consumo de açúcares, recomendando uma ingestão inferior a 10% do valor energético diário
 
Segundo a investigadora, os grupos que apresentaram uma "menor adesão" a esta recomendação foram as crianças e os adolescentes, sendo que os refrigerantes, iogurtes, cereais e doces foram os alimentos que mais contribuíram para o elevado consumo.
 
"Verificou-se que os portugueses consomem em média 84 gramas de açúcares totais por dia e 35 gramas de açúcares livres, sendo o consumo superior em crianças, dos 5 aos 9 anos, que consomem 50 gramas por dia de açúcares livres, e em adolescentes, dos 10 aos 17 anos, que consomem 53 gramas por dia de açúcares livres", garantiu Ana RIta Marinho.
 
Por sua vez, os indivíduos com mais de 65 anos foram os que apresentaram "uma maior adesão a esta recomendação", e consequentemente, "melhores consumos".
 
Para Ana Rita Marinho, este estudo, ao caracterizar o consumo de açúcar por grupos etários e os alimentos que motivam esse consumo, pode ser um "bom instrumento para definir estratégias de saúde pública".
 

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Lançada campanha de sensibilização para tumor que afeta os olhos

Iniciativa do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
O Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) lançou uma campanha nacional de sensibilização para o retinoblastoma, um tumor que afeta os olhos de crianças e cujo diagnóstico precoce "faz toda a diferença", anunciou a agência Lusa.
 
A campanha passa, em parte, pela distribuição de panfletos por todos os centros de saúde e serviços de pediatria a nível nacional, alertando para a necessidade de um diagnóstico precoce do retinoblastoma, um tumor que é exclusivamente tratado no Centro de Referência Nacional de Onco-Oftalmologia, no CHUC, que funciona desde 2015.
 
"As crianças aparecem tardiamente e este é um tumor que quanto mais precoces”, maiores são as probabilidades de sobrevivência do olho e da não utilização de tratamentos mais invasivos, explicou o diretor do Centro de Referência Nacional de Onco-Oftalmologia, Joaquim Murta.
 
O responsável pela área da oftalmologia no Centro de Referência, Guilherme Castela, referiu que, em quatro anos de funcionamento, foram tratadas 36 crianças com este tumor, 23 das quais portuguesas.
 
"80% chegam em fase tardia e tivemos que retirar, em 11 doentes, o olho, porque já chegaram mais tarde", disse, salientando que, num diagnóstico precoce, para além de se salvar o olho, é também possível manter a visão.
 
Este tumor, que pode matar, pode ser facilmente diagnosticado, sublinhou, explicando que um dos sintomas é um reflexo branco na pupila, notado em ambientes de pouca luz ou numa fotografia tirada com flash e sem a câmara estar configurada com a remoção automática do olho vermelho.
 
Segundo a oncologista pediátrica do CHUC Sónia Silva, já há a promessa da Direção-Geral de Saúde de incluir orientações em torno deste tumor no boletim de saúde infantil e juvenil.
 
Para o presidente do CHUC, Fernando Regateiro, "é fundamental sensibilizar a população para detetar situações em que, havendo uma atuação precoce, poderão ser tratadas com melhores resultados".
 
Será o aumento do autismo causado pelos alimentos processados?
Estudo publicado na revista “Scientific Reports”
Os alimentos que as mulheres grávidas consomem poderão estar relacionados com o atual aumento dos casos de autismo, sugeriu uma equipa de investigadores. 
 
Com o número de crianças com autismo a aumentar existe uma necessidade cada vez mais premente de descobrir as causas desse fenómeno.
 
Num estudo conduzido pela equipa da Universidade da Flórida Central, EUA, foram identificadas alterações moleculares quando as células estaminais neurais são expostas a elevados níveis de ácido propiónico (PPA), um ácido frequentemente adicionado a alimentos processados para aumentar o seu prazo de validade e para evitar a formação de bolores em queijo e pão.
 
Os investigadores Saleh Naser, Latifa Abdelli e Aseela Samsam descobriram que o PPA faz reduzir o desenvolvimento de neurónios no cérebro do feto.
 
Após ter sido observado que as crianças autistas sofrem frequentemente de problemas digestivos e intestinais, Saleh Naser especulou que poderia haver uma ligação entre o sistema gastrointestinal e o cérebro. 
 
A equipa propôs-se assim analisar as diferenças entre o microbioma de pessoas com autismo e o de pessoas normais.
 
A equipa descobriu que a exposição de células estaminais neurais a níveis excessivos de PPA prejudica as células cerebrais de várias formas. 
 
Em primeiro lugar, o PPA afeta o equilíbrio natural entre as células cerebrais pois reduz o número de neurónios e produz um excesso de células gliais. Embora as células gliais ajudem a desenvolver e proteger a função neuronal, se houver um excesso dessas células a ligação entre os neurónios poderá ser afetada. As células gliais causam também inflamação, já observada em cérebros de crianças com autismo. 
 
O excesso de PPA diminui e danifica ainda as vias usadas pelos neurónios para comunicar com o resto do organismo. A combinação de menos neurónios e de vias danificadas impede a capacidade do cérebro de comunicar, resultando em comportamentos típicos do autismo, como comportamentos repetitivos, problemas de mobilidade e incapacidade de interação com outrem.
 
Falha de crescimento em bebés prematuros ligada a microbioma intestinal
Estudo publicado na revista “Scientific Reports”
Os bebés extremamente prematuros que apresentam falha de crescimento têm também atrasos no desenvolvimento do seu microbioma intestinal, descobriu uma equipa de investigadores.
 
Num estudo conduzido pela equipa do Hospital Pediátrico Ann & Robert H. Lurie, em Chicago, EUA, a análise do metabolismo de bebés prematuros com problemas de crescimento revelou que os seus organismos respondem da mesma forma como se estivessem de jejum, apesar de terem um aporte calórico semelhante ao de bebés extremamente prematuros com um crescimento apropriado.
 
A falha de crescimento nos bebés prematuros constitui um fator de risco de incapacidade cognitiva e motora e poderá mais tarde predispô-los para a obesidade, diabetes de tipo 2 e doenças cardíacas.
 
Para a sua investigação, a equipa analisou 58 bebés que tinham nascido antes das 27 semanas de gestação, pesando em média menos de um quilograma. 
 
36 dos bebés apresentavam falha de crescimento, enquanto o resto evidenciou um crescimento apropriado. Ambos os grupos possuíam diferenças consistentes no microbioma e metabolismo, independentemente de complicações de prematuridade, como sépsis, inflamação intestinal ou perfuração intestinal.
 
Os bebés com falha de crescimento apresentavam problemas de maturação no microbioma intestinal, caracterizados por uma reduzida diversidade bacteriana, o domínio de certas bactérias causadoras de doenças (Staphylococcus e Enterobacteriaceae) e uma baixa proporção de bactérias inofensivas (como a Veillonella).
 
Aqueles bebés demonstravam ainda atrasos no desenvolvimento metabólico com características que sugeriam deficiências no metabolismo da glicose e de outras fontes energéticas que não lípidos e maior dependência em ácidos gordos. Estes bebés estavam, como mencionado, num estado fisiológico persistente semelhante ao jejum.
 
“Isto poderá explicar porque é que simplesmente aumentar o fornecimento calórico aos bebés com falha de crescimento muitas vezes não funciona. Para desenvolver tratamentos eficazes, temos que perceber melhor a forma como a sua incapacidade de utilizar nutrientes para energia é influenciada pela maturação retardada do microbioma e metabolismo”, concluiu Patrick Seed, coautor do estudo. 
 

domingo, 4 de agosto de 2019

Vacinas contra meningite B e rotavírus são seguras e eficazes
Considerações da Sociedade Portuguesa de Pediatria
A Sociedade Portuguesa de Pediatria considera que as vacinas contra a meningite B e contra o rotavírus são seguras e eficazes, indicou a agência Lusa.
Luís Varandas, da Sociedade Portuguesa de Pediatria, explicou que as recomendações da Sociedade são científicas, mas vão no sentido de esclarecer os médicos pediatras sobre a eficácia e segurança das vacinas em termos de proteção individual.
Quanto à meningite B, o especialista afirmou que, apesar de ser uma “doença rara”, há cerca de 40 casos por ano em Portugal, sendo que é uma doença “potencialmente fatal em menos de 24 horas” e que não tem outra forma de proteção além da vacina.
Todos os anos morrem entre duas a três crianças em Portugal com meningite B e pelo menos 20% de todos os casos da doença ficam com sequelas para toda a vida.
Um estudo já feito em Portugal sobre esta vacina demonstrou uma eficácia de proteção da vacina da meningite B acima dos 80%, em linha com o registado no Reino Unido, por exemplo. O grupo alvo desta vacina serão todas as crianças até aos dois anos.
Quanto à vacina contra o rotavírus (que provoca gastroenterites), o perito recordou que é uma doença que todas as pessoas têm pelo menos uma vez na vida, acrescentando que a imunização também é segura e eficaz para os casos de doença grave.
No Reino Unido, a introdução da vacina demonstrou, por exemplo, uma redução de cerca de 90% dos internamentos por rotavírus.
Quanto ao alargamento da vacina contra o HPV (vírus do papiloma humano) aos rapazes, Luís Varandas considerou que “há uma carga de doença significativa que podia ser evitada”.
A vacina contra o HPV já consta do Programa Nacional de Vacinação para as raparigas, mas o perito lembra que isso não protege todos os rapazes, nomeadamente no grupo de homens que têm sexo com homens, além de ficarem de fora os rapazes que têm sexo com raparigas não vacinadas.
Autismo: confirmada ligação entre trato gastrointestinal e cérebro
Estudo publicado na revista “Autism Research”
Uma equipa de investigadores poderá ter descoberto a razão pela qual muitos dos pacientes com autismo apresentam problemas do trato gastrointestinal.

Segundo Elisa Hill-Yardin, investigadora envolvida no achado, da Universidade RMIT, na Austrália, até 90% dos pacientes com autismo sofrem de problemas gastrointestinais. A investigadora e colegas descobriram que as mesmas mutações genéticas no cérebro e no sistema gastrointestinal poderão ser a causa desses problemas.

Já há muito que os investigadores têm procurado perceber o autismo estudando o cérebro. Porém a ligação com o sistema nervoso gastrointestinal só começou a ser recentemente explorada. 

“Sabemos que o cérebro e o sistema gastrointestinal partilham muitos neurónios e agora, pela primeira vez, confirmámos que partilham também mutações genéticas ligadas ao autismo”, indicou Elisa Hill-Yardin.

A equipa descobriu uma mutação genética que afeta a comunicação neuronal no cérebro e foi a primeira causa de autismo identificada que causa também disfunções intestinais.

Este trabalho reúne resultados de estudos pré-clínicos em animais e de um estudo clínico de 2003 liderado por investigadores suecos e um francês, que foi o primeiro a identificar uma mutação genética específica que causa o autismo. Esta mutação altera o “velcro” que mantém os neurónios em contacto próximo, afetando a comunicação.

O mesmo estudo, que tinha analisado dois irmãos, detetou que os mesmo tinham problemas gastrointestinais significativos
O presente estudo descobriu que aquela mutação genética afeta as contrações gastrointestinais, o número de neurónios no intestino delgado, a velocidade com que os alimentos se deslocam no intestino delgado e as respostas a um neurotransmissor importante no autismo (já bem conhecido no cérebro e agora descoberto o seu importante papel no sistema gastrointestinal).

Este achado confirma a existência de uma ligação entre o cérebro e o sistema nervoso intestinal e abre caminho para uma nova abordagem em relação a potenciais tratamentos que possam aliviar questões comportamentais associadas ao autismo, atuando sobre o trato gastrointestinal
.
“Identificámos também que é necessário perceber melhor a forma como as medicações existentes para o autismo que atuam sobre os neurotransmissores no cérebro estão a afetar o sistema gastrointestinal”, afirmou Elisa Hill-Yardin.

domingo, 5 de maio de 2019

Dormimos mais quando estamos doentes. Porquê?
Estudo publicado na revista “Science”
Uma equipa de investigadores descobriu um gene que é responsável pela necessidade maior de dormir quando nos encontramos doentes.
 
O gene, que foi denominado nemuri (significado de dormir em japonês), foi descoberto por uma equipa de investigadores da Faculdade de Medicina Perelman da Universidade da Pensilvânia, EUA, num estudo que incluiu mais de 12.000 linhas de mosca da fruta. 
 
A proteína NEMURI combate os germes com a sua atividade antimicrobiana inerente, e é segregada por células no cérebro para promover um sono prolongado e profundo quando existe infeção.
 
Amita Sehgal, autora sénior deste estudo, explicou que, “embora seja do conhecimento comum o facto de o sono e a recuperação estarem intimamente associados, o nosso estudo liga diretamente o sono ao sistema imunitário e dá uma potencial explicação para o facto de o sono aumentar durante as doenças”.
 
A equipa observou que as moscas da fruta que não expressavam o gene nemuri despertavam mais facilmente durante o sono e aparentavam ter menos necessidade de dormir na sequência de uma infeção ou de privação de sono.
 
Os investigadores observaram também que a privação de sono, a qual faz aumentar a necessidade de dormir e, de alguma forma, o desenvolvimento de infeções, estimulou a expressão do gene nemuri num pequeno grupo de neurónios das moscas que se encontravam perto de uma estrutura do cérebro promotora do sono. 
 
A superexpressão do gene fez aumentar o sono em moscas que tinham sido infetadas com bactérias, o que fez melhorar as suas hipóteses de sobrevivência em relação às moscas de um grupo de controlo que não tinham sido infetadas.
 
Segundo os investigadores, a proteína NEMURI parece reagir a infeções, exterminando as bactérias e aumenta o sono, atuando sobre o cérebro. 
 
A NEMURI é um peptídeo antimicrobiano. Muitas outras moléculas possuem múltiplas funções que ajudam a combater infeções. No entanto, a função de promotora de sono da NEMURI poderá ser também importante para a defesa do seu hospedeiro, pois o aumento do sono com a infeção promoveu a sobrevivência nas moscas. 
 
Tipo de parto influencia o microbioma intestinal e a saúde respiratória do bebé
Estudo apresentado no Congresso ECCMID 2019
Um novo estudo sugere que o tipo de parto afeta o microbioma intestinal do bebé, independentemente do uso materno de antibióticos, influenciando por sua vez, a saúde respiratória do bebé durante o seu primeiro ano de vida.
 
Conduzido por investigadores do Hospital Spaarne Gasthuis em Hoofddorp, em colaboração com o Complexo Médico da Universidade de Utrecht, ambos na Holanda, o estudo analisou o microbioma intestinal de 120 bebés, 46 dos quais tinham nascido por cesarina e 74 por via vaginal.
 
Para a análise do microbioma intestinal, a equipa recolheu amostras fecais, em 10 ocasiões diferentes, durante o primeiro ano de vida dos bebés. 
 
A administração de antibióticos às mães submetidas a cesariana foi adiada até ser cortado o cordão umbilical. Foram ainda recolhidas amostras fecais das mães duas semanas após o parto.
 
Os resultados das análises demonstraram composições significativamente diferentes entre o microbioma intestinal nos bebés nascidos por cesariana e o dos nascidos por parto vaginal, durante o primeiro ano de vida, sendo mais pronunciadas pouco tempo após o nascimento.
 
Foi ainda observada a transferência de micróbios maternos vaginais para os bebés que tinham nascido por parto vaginal, mas não para os bebés nascidos por cesariana. 
 
Os bebés nascidos por cesariana apresentavam um microbioma intestinal menos estável e um atraso nas bactérias Bifidobacterium spp, que são promotoras da saúde, em relação aos bebés nascidos por via vaginal. 
 
Aqueles bebés possuíam ainda níveis muito mais elevados de bactérias intestinais potencialmente patogénicas, independentemente do tempo de internamento hospitalar após o nascimento, tipo de alimentação e uso de antibióticos. 
 
Finalmente, a equipa descobriu ainda que o microbioma intestinal nos primeiros tempos de vida dos bebés estava associado ao número total de infeções respiratórias durante o seu primeiro ano. 
 
Apneia do sono poderá estar associada a doença de Alzheimer
Estudo apresentado no Congresso da Academia Americana de Neurologia
A apneia do sono poderá estar associada a um risco mais elevado de demência, nomeadamente doença de Alzheimer, indicou um novo estudo. 
 
O estudo, que foi conduzido por Diego Carvalho e equipa da Clínica Mayo em Rochester, EUA, procurou analisar a potencial relação entre a apneia do sono e a presença de proteína tau no cérebro, um dos biomarcadores da Alzheimer.
 
Diego Carvalho avançou que muitas pessoas que sofrem de apneia do sono desconhecem ter a doença.
 
Para determinar a presença de apneia do sono, a equipa recrutou 288 pessoas com 65 anos ou mais de idade, sem sinais de incapacidade cognitiva, e pediu aos seus companheiros de sono que estivessem atentos a episódios de falha de respiração durante a noite. 
 
Adicionalmente, os investigadores analisaram a presença da proteína tau no cérebro dos participantes através de tomografia por emissão de positrões (PET), especialmente na região do córtex entorrinal. Esta região é responsável pela memória, perceção temporal e espacial e apresenta maior tendência para acumulação de tau. 
 
O processo de monitorização do sono noturno revelou que 43 participantes tinham experienciado episódios de apneia. Estes participantes possuíam níveis de tau no córtex entorrinal 4,5% mais elevados do que os participantes sem apneia do sono. Este aumento manteve-se após considerados fatores como idade, sexo, outros problema de sono e saúde cardiovascular.
 
Como resultado, os investigadores concluíram haver indícios de uma ligação entre a apneia do sono e uma maior acumulação de tau no cérebro. 
 
Contudo, disse Diego Carvalho, poderá verificar-se o contrário: “é também possível que os níveis mais elevados de tau noutras regiões possam predispor uma pessoa para a apneia do sono”.