terça-feira, 1 de abril de 2014

Todos os anos nascem em Portugal pelo menos mil bebés prematuros com menos de 1500 gramas

Programa criado pela associação XXS pretende criar acções de formação para pais de bebés que nascem antes do fim da gravidez.
 
 
Em cada 100 bebés que nascem em Portugal oito nascem prematuros, ou seja, antes das 37 semanas de gestação, mas dentro destes existe um grupo de crianças com um maior risco de morte e de sequelas: são os recém-nascidos de muito baixo peso. Todos os anos nascem cerca de 1000 crianças com peso inferior a 1500 gramas, afirmou Rosalina Barroso, presidente da secção de Neonatologia da Sociedade Portuguesa de Pediatria. Os dados foram apresentados esta terça-feira na sessão de apresentação do projecto CARE (Cuidados de Apoio a Recém-nascidos em Risco), criado para dar apoio a crianças prematuras e aos seus pais.

Nascem cada vez mais bebés antes do fim da gravidez. As razões são várias, mas uma delas é o facto de a idade das mães ser cada vez mais tardia, referiu a directora da unidade de neonatologia da Maternidade Alfredo da Costa, Teresa Tomé, lembrando que em Portugal a média da primeira gravidez está já nos 31,5 anos, sendo cada vez mais as mulheres que têm bebés acima dos 35 anos, idade a partir da qual aumenta o risco da prematuridade.

Fernando Leal da Costa, o secretário de Estado Adjunto do ministro da Saúde, admitiu que “há condições de carácter social” que podem estar a fazer com que as pessoas adiem cada vez mais a idade de ter filhos, notando “que não há estímulos suficientes para poder ter filhos mais cedo”. Há também comportamentos de risco, como o facto de a mãe ser fumadora, ou ter excesso de peso, sofrer de stress, que aumentam o risco de parto prematuro.
É assim que 8% a 10% dos bebés que nascem em Portugal são prematuros, disse o governante. E um terço da mortalidade infantil em Portugal acontece nestes bebés.

Os recém-nascidos com idade gestacional inferior a 32 semanas e com menos de 1500 gramas são os que apresentam maior risco de morte, são também os que têm maior risco de distúrbios do desenvolvimento, como atrasos cognitivos, perturbações da linguagem, paralisia cerebral, dificuldades de coordenação e equilíbrio, défices visuais e auditivos.

O Registo Nacional do Recém-Nascido de Muito Baixo Peso, no qual os profissionais assinalam as crianças que passaram pelas Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais, contabilizou 16.993 crianças nestas condições nascidas entre 1996 e 2012, o que dá uma média de cerca de mil por ano, disse Rosalina Barroso. O limite da viabilidade está definido  nas 25 semanas e 600 gramas de peso.
A XXS-Associação Portuguesa de Apoio ao Bebé Prematuro nasceu em 2008 precisamente para dar apoio a estas famílias e foi nesta associação de pais que nasceu o projecto lançado esta terça-feira. O CARE receberá verbas do Ministério do Trabalho e da Solidariedade, e apoio do Ministério da Saúde. Os pormenores práticos sobre o projecto ainda são poucos mas o que se pretende é criar formações específicas para pessoal de saúde na prestação de cuidados a bebés prematuros. Outro dos grandes enfoques do projecto é aumentar os conhecimentos sobre os pais que têm estes filhos. As dificuldades são várias.
Tudo começa no hospital. Estes são bebés que, em muitos casos, passarão os seus primeiros dois a três meses de vida internados numa unidade de cuidados intensivos de neonatologia, explica Teresa Tomé. Contrariamente aos bebés de termo, os prematuros não sabem mamar – essa é uma capacidade que só adquirem às 34 semanas –, mas deve-lhes ser dado leite materno através de sondas. Ou seja, tem que haver um enorme esforço das mães para estimular a produção de leite, armazenar, trazer o leite para o hospital para ser dado ao bebé, refere a médica.
Nos seminários de formação para pais está previsto serem abordadas questões como as vantagens do “método canguru” em que é estimulado, desde muito cedo, o contacto pele a pele entre a mãe e o bebé, uma forma de manterem o calor como complemento à incubadora, refere a médica, isto se o bebé estiver estável. Outra das vertentes será a formação no apoio na ida para casa depois da alta.

Fonte - Público (19.03.2014) - http://www.publico.pt/sociedade/noticia/todos-os-anos-nascem-em-portugal-pelo-menosmil-bebes-com-menos-1500-gramas-1628922

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