domingo, 23 de outubro de 2016

A linguagem dos sentidos
Estudo publicado na revista “Nature”

 

Investigadores suíços identificaram a assinatura da expressão genética comum à visão, tato e audição, o que permitiu descobrir a “língua franca” sensorial que facilita a interpretação e a integração da informação sensorial do cérebro. Estes achados publicados na revista “Nature” abrem assim caminho para uma melhor compreensão dos distúrbios de perceção e comunicação.

A visão, o tato e a audição são as nossas janelas para o mundo. A capacidade de detetar e classificar vários tipos de estímulos é essencial para interagir com objetos e pessoas que nos rodeiam, assim como para comunicar corretamente. Na verdade, os défices de interação social dos pacientes com autismo parecem ser, em parte, resultantes das dificuldades em detetar e interpretar os sinais sensoriais. Mas de que forma o cérebro interpreta e integra os estímulos enviados pelos cinco sentidos?

Neste estudo, os investigadores da Universidade de Genebra, na Suíça, analisaram a estrutura genética das vias táteis, visuais e auditivas em ratinhos. Ao observarem a expressão genética visual nestas vias distintas durante o desenvolvimento, os cientistas foram capazes de detetar padrões comuns, como que uma linguagem genética subjacente a todas.

Os investigadores, liderados por Denis Jabaudon, constataram que durante o desenvolvimento, as várias vias sensoriais partilham inicialmente uma estrutura genética comum que posteriormente se adapta à atividade do órgão associada a cada sentido.

O investigador referiu que este processo demora apenas alguns dias em ratinhos, mas pode demorar vários meses nos seres humanos, cujo desenvolvimento é mais longo e bem mais sensível ao ambiente.

Esta língua franca genética permite a construção das várias vias sensoriais de acordo com uma arquitetura similar independentemente das suas funções distintas. É esta linguagem partilhada que permite ao cérebro interpretar corretamente os estímulos que proveem de diferentes fontes e compor uma representação coerente do seu significado combinado.

A partilha do mesmo plano de construção também explica como as várias vias se podem equilibrar mutuamente, nomeadamente o facto de o tato e a audição ficarem altamente desenvolvidos quando um indivíduo nasce cego. Esta descoberta também explica porque as interferências sensoriais, incluindo a sinestesias e alucinações, podem ocorrer em indivíduos que sofrem de doenças do neurodesenvolvimento, como o autismo ou esquizofrenia.

Denis Jabaudon conclui que estes resultados ajudam a perceber melhor como os circuitos cerebrais que constroem a nossa representação do mundo se juntam durante o desenvolvimento. “Agora, estamos em condições de analisar como estes achados podem ser utilizados para os [circuitos cerebrais] reparar quando falham”, acrescentou o investigador.

Fonte - ALERT Life Sciences Computing, S.A. (http://www.alert-online.com/pt/news/health-portal/a-linguagem-dos-sentidos?utm_source=NL_NOTICIAS_DESTAQUES&utm_medium=email&utm_campaign=NL_AHP_20161010)

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